O leve toque que o vento dava em sua franja, fazendo com que ela levantasse e voltasse na frente de seu olho, lhe dava um charme a mais, mas ela não precisava disso. A forma como os raios de sol batiam em seu rosto, delineando seu contorno. O movimento quase cênico (porem muito natural) de seu braço. A mão que passava pela cabeça e deixava os fios escorrerem entre seus dedos enquanto procuravam por um apoio (talvez atrás da orelha). Tudo isso também lhe dava um charme a mais, mas ela também não precisava disso.
Achava estranho como ela conseguia ser tão graciosa mesmo estando parada. Não era a beleza em si, ela já parava de uma forma meiga e delicada. Sim, ela era bonita, e muito, mas não era isso que mais chamava atenção. Talvez fosse a determinação com que escrevia em seu pequeno caderno de anotações é que chamasse a atenção, talvez fosse o fato de que não era normal uma menina daquela idade freqüentar um café àquela hora da tarde, mas acredito que o que chamava a atenção era a harmonia que ela transmitia.
Nos, homens, por vezes nos sentimos atraídos pela fragilidade, pela carência, pelo fato de podermos completar alguém. Não era esse caso. Eu mal conseguia piscar, mas ela transmitia essa harmonia justamente por parecer uma pessoa completa, ou uma pessoa que não precisa de ninguém para se completar. A sua expressão, sua forma de vestir, a sua forma de escrever e seus trejeitos passavam uma idéia de que ela era uma pessoa inteligente, determinada, carinhosa e delicada.
Não me achei em condições de interromper tão bela cena, fiquei um bom tempo reparando, e o meu momento de contemplação só foi quebrado por amigos que chegavam para conversar comigo. Ela foi embora e eu ainda estava lá. Um dia ainda sentarei em sua mesa e tomarei um café com ela, confirmando todas as minhas primeiras impressões;
Esse é um texto de ficção.
A “mulher do café” é baseada em uma mulher de verdade.
Alexandre A. Scotti